fonte: O Globo
Uma sueca de 36 anos é a primeira mulher a dar à luz com um útero transplantado, revela neste sábado a revista médica britânica “The Lancet”. Este importante progresso na luta contra a infertilidade permitiu à mulher, que nasceu sem útero, dar à luz um menino saudável, após 31 semanas de gestação, destaca a revista. O bebê nasceu com 1,775 kg.
A mãe nasceu sem útero, devido a uma afecção genética. Sua identidade não foi revelada. Ela deixou o hospital três dias após o parto, enquanto a criança recebeu alta da unidade neonatal dez dias depois do nascimento. Ambos passam bem, acrescenta o periódico. O útero transplantado era de uma mulher de 61 anos, que entrou na menopausa há sete anos, após ter sido operada.
– Esse sucesso se baseia em mais de dez anos de pesquisas intensivas em cobaias e treinamento cirúrgico da nossa equipe e cria a possibilidade de tratar um bom número de jovens mulheres no mundo que sofrem de infertilidade uterina – disse à revista o professor Mats Brännström, especialista em Ginecologia Obstetrícia da Universidade de Gothenburg, que liderou a pesquisa. – Além disso, demonstramos a viabilidade do transplante de útero de uma doadora viva, mesmo quando esta última se encontra na menopausa – completou.
De acordo com os especialistas, “a falta de útero era o único tipo de infertilidade feminina considerado, até agora, fora do alcance das possibilidades terapêuticas”. Em Paris, o professor René Frydman, pai científico do primeiro bebê de proveta francês, recebeu “com entusiasmo” essa “etapa”, que ele considerou comparável à do “transplante de coração para as patologias cardíacas”.
A mulher tratada tinha os ovários intactos, sendo, portanto, capaz de produzir os óvulos que foram fecundados pelas técnicas de fecundação in vitro (FIV) antes do transplante. Com isso, foi possível dispor de 11 embriões congelados. Um ano depois do transplante de útero, os médicos transferiram um único embrião para o útero transplantado, o que levou à gravidez.
– Observamos um único episódio de fraca rejeição durante a gravidez, tratado com corticoesteroides, e a mulher trabalhou em tempo integral até a véspera do parto – destacou Brännström.
O crescimento do feto e a irrigação sanguínea pelas artérias uterinas e pelo cordão umbilical foram normais até a 31ª semana. Nesse momento, ela teve de ser internada, devido à eclampsia, e foi submetida a uma cesárea. A eclampsia é uma patologia marcada, sobretudo, pela hipertensão e representa um risco para o feto.
A nova mamãe é uma das nove suecas que aceitaram um transplante de útero de doadoras vivas em 2013. Do mesmo modo que sete delas, apresentava a síndrome MRKH, que leva à ausência – total ou parcial – de vagina e de útero. Essa circunstância afeta uma em cada cinco mil mulheres de forma congênita. No Reino Unido, estima-se em mais de 12 mil o número de mulheres em idade reprodutiva que apresentam fatores de infertilidade de origem uterina, aponta “The Lancet”.
Antes dessa façanha, outras tentativas de transplantes com úteros de doadoras – vivas, ou não – já haviam sido realizadas, mas fracassaram. A primeira vez foi na Arábia Saudita, em 2000. Depois de três meses, o útero da paciente necrosou. Outra tentativa foi na Turquia, em 2011, quando se recorreu ao útero de uma doadora falecida. A gravidez teve início, mas acabou em aborto.